domingo, 26 de abril de 2015

Um texto poema da Rosa Azevedo para a exposição dos ícaros em Setúbal

ícaros
páginas amarelas,
asas de sombra
arco-íris pausado a riscos de vinil

é um país onde as fronteiras são as histórias
os silêncios
os medos satirizados

país onde a cadência é só literatura
e a literatura músicas que se decoram por não se poderem dizer

humanos latentes, ícaros sem limites
num país em versos onde os sons nunca se retraem

é uma música imperfeita
memorizada

não há rimas na poesia nem nas ruas desempedradas
não há versos indiscutíveis

não há cadências suaves

há só cadáveres esquisitos porque nenhuma linha começa sem outra linha lhe ter pedido auxílio

é assim o segredo da canção
dos ícaros
dos quadros
do incansável passar dos anos

a única linha imutável, a que tem sempre duas vozes que não se podem distinguir

Rosa Azevedo, Abril 2015


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